Karina Kuschnir

desenhos, textos, coisas

Estilo copiativo

8 Comentários

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O Leonardo, um leitor do blog que não conheço pessoalmente, me escreveu perguntando “se meu estilo tem nome” e como ele faz para desenhar do jeito que eu desenho… Estou há umas três semanas fingindo que não vi o comentário. Vai que ele errou de blog? Deve ter clicado em algum dos links que coloquei na lista de inspirações e comentou aqui por engano… Mas hoje fui rever a mensagem e estava lá o que eu temia: o meu nome logo no início da pergunta. Foi pra mim mesmo.

O problema é que eu não me vejo tendo estilo de desenho algum. Desde pequena eu adorava era fazer cópias. Um dos primeiros desenhos de que me lembro ter feito foi uma tentativa de cópia da capa do LP dos Saltimbancos, uma imagem da galinha com os pintinhos em volta. A minha mãe até mandou emoldurar, apesar dos meus protestos dizendo que só tinha copiado… Depois me atraquei com uns livrinhos de arte da minha avó, do Toulouse-Lautrec, do Degas e do Ingres. Gostava mais de desenhar gente do que coisas.

Na época em que eu tinha uns dez, doze anos, havia uma febre entre as adolescentes de colecionar adesivos e papéis de carta decorados. O problema é que no Brasil não se vendia aqueles que a gente mais gostava, do Snoopy e da Hello Kitty, por exemplo. Quando eu conseguia uma folhinha nova, ao invés de colar por aí, eu fazia o seguinte: copiava os desenhos tim-tim por tim-tim, com canetinhas e lápis de cor, até ficarem “idênticos” aos originais. Depois recortava (deixando uma margem branca, como nos meus modelos) e colava um contact transparente por cima para virarem adesivos. Tenho até hoje uma agenda escolar cheia dessas cópias e, claro, uma caixa bem velhinha com algumas folhas com os adesivos originais ainda intactos! (Outras eu usei com os meus filhos para provar que tinha deixado de ser boba).

A glória dessa fase foi quando minha irmã arranjou um namorado que gostava de desenhar (e copiar) tanto quanto eu. Fazíamos guerras de Garfields! (Outro dia me lembrei dessa fase, aqui.) Ele era muito melhor: sabia tão bem todas as proporções do Garfield e do Spooky que desenhava sem olhar os modelos. Estávamos nos anos 1980 e tudo era muito cafona: passamos a fazer adesivos enormes para colar nos carros dos pais e dos amigos! Pois é.

Depois desse auge copiativo, a única coisa de que me lembro foram os fracassos em duas provas de vestibular de desenho. Fui reprovada na primeira, que fiz ainda no segundo ano do ensino médio. No terceiro ano, resolvi fazer umas aulas para me preparar. Meu sonho era passar para a Esdi.

Arranjei um professor tipinho “gênio”, especialista em física, química e matemática, mas que também se garantia em desenho. Não me lembro das aulas. Só que ele me emprestou Os Miseráveis e me achei o máximo devorando o livro. (Depois, descobri, revoltada, que aquela era uma versão reduzida!) Eita professorzinho charlatão. O resultado: fui reprovada de novo! Uma das questões daquela segunda prova até hoje me dá pesadelos: desenhe objetos análogos ao conceito que aproxima uma escova de dentes de uma escova de cabelo. Desenhe! Até hoje eu não sei a resposta…

Será que é por isso que eu tenho trauma de fazer desenho por encomenda?

E pensar que nesse mesmo vestibular eu tinha passado na minha segunda opção. Entrei para a Escola de Comunicação da UFRJ e não fui fazer matrícula! Se eu fosse a minha mãe, teria me matado!! Mas minha mãe era tipo anos 1970 e não pressionava… O prêmio de consolação foi passar na prova de desenho da PUC; mas aí o caldo já estava entornado. Não conseguia gostar… Logo no primeiro semestre de projeto, fui reprovada pela Ana Branco, merecidamente. Toda a minha auto-estima, de aluna quase exemplar nos anos de colégio, estava indo ladeira abaixo…

Para encurtar a história: subi umas escadas lá na PUC mesmo e resolvi fazer aulas na Comunicação. Acabei me encantando com os professores do curso, tantos os jornalistas como os que vinham de áreas como antropologia, sociologia, história, letras, cinema… Virei jornalista, depois antropóloga e passei uns dez anos praticamente sem desenhar.

Acho melhor contar a outra parte num próximo post, tá Leonardo? Sei que não respondi nada de objetivo para a sua pergunta, mas já está muito grande essa história que nem tem graça nenhuma.

Sobre os desenhos: O pretexto para responder ao Leonardo surgiu desses desenhos, que comecei a fazer para remendar uma página de observação que deu errado. Me dei conta de que essa mania de copiar me deixa paralisada quando não tenho nada para observar! Como detesto manias (principalmente as minhas), bora lutar contra. Aí vão dois desenhos imaginados… Ambos feitos com canetinhas Unipin 0.05 (abaixo) e 0.2 (acima) e coloridos com aquarela num caderno moleskine velho que tinha umas folhas sobrando. Ah, mas para não dizer que não copiei nada de ninguém, a inspiração das cores é do Prashant Miranda, por quem ando completamente apaixonada; e acho que as construções foram bastante influenciadas casinhas que andei fazendo, aqui e aqui, e por estas lá do início do blog.

 

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8 pensamentos sobre “Estilo copiativo

  1. meu email é mateuzinhosallys@gmail.com parabéns vc desenha muito bem de 0 a 10 te do 1000.000

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  2. Adorei Karina. Além de uma antropóloga top 10, você desenha muito. Quem são os loucos que te reprovaram?

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  3. Adorei a explicação e os desenhos!

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  4. Delicia de texto. Eu adorava essa fase de papéis de carta, e do momento copiar o desenho…Bjs

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  5. Querida Karina. Lendo seu texto, lembrei das minhas cópias e criações de criança… Quanta liberdade! Fico tentada a me imitar… Eu também fui reprovada na prova de habilidade específica que, por sinal, era uma maluquice. No meu caso, insisti e passei na segunda vez. Que maravilha estarmos hoje compartilhando e desenhando nossas histórias!

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  6. Oi Karina, só para compartilhar: também era viciada em Snoopy e na Hello Kitty. Tenho coleção de mini snoopys na minha estante do quarto. Mas não conta para os meus clientes não tá? Vão achar que a advogada não teve infância, haha. Beijo grande. Ines

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